O tratamento antibiótico, embora recomendado, não é essencial, e não deve substituir as medidas de suporte, que são mais importantes. Mesmo os pacientes com formas graves de leptospirose podem recuperar-se na ausência de tratamento antibiótico. Os estudos sistemáticos (randomizados, controlados com placebo, submetidos a análise estatística) sobre o emprego de antibióticos na leptospirose humana são escassos. As leptospiras são susceptíveis a uma ampla gama de antibióticos. Estudos em animais mostram a eficácia da ampicilina, piperacilina, mezlocilina, cefotaxima e doxiciclina em reduzir a mortalidade, o que não se pode demonstrar com a cefalexina, o cefamandol e a cefoperazona. Também a estreptomicina, o cloranfenicol, a eritromicina, a oleandomicina são eficazes em infecções experimentais por leptospira. Entretanto, a experiência clínica em seres humanos está restrita a uns poucos antibióticos, entre os quais a penicilina cristalina, ampicilina, amoxicilina, oxitetraciclina e doxiciclina. Embora haja relatos isolados da eficácia de outros antibióticos (p. ex., ceftriaxona, eritromicina) em infecções experimentais, estes antibióticos não podem ser indicados por falta de dados clínicos. A antibioterapia com penicilina e doxiciclina reduz a duração e a gravidade dos sintomas, mas a sua influência na mortalidade é controversa. Seu efeito mais evidente é a supressão da leptospirúria. Os antibióticos estão recomendados mesmo após o quarto dia de doença.
O tratamento mais empregado consiste na infusão venosa de penicilina cristalina, nas doses de 100 mil unidades por quilo de peso por dia (6 a 10 milhões por dia) durante sete dias. Também a doxiciclina, 100 mg duas vezes ao dia pode ser empregada por 7 dias. Não há estudos mostrando qual dos dois regimes é o melhor. Embora a doxiciclina seja a tetraciclina que menos problemas trará a um paciente com insuficiência renal, nesta situação será preferível o emprego da penicilina. Além disso, não há tetraciclinas para uso venoso em nosso país. A ampicilina também pode ser empregada por via venosa, nas doses de 1 g cada 6 horas, e a amoxicilina por via oral nas doses de 500 mg cada 8 horas.
Complicações:
São comuns as infecções secundárias, em decorrência dos múltiplos procedimentos invasivos a que são submetidos em seu tratamento os pacientes de leptospirose. As infecções urinárias ocorrem mesmo em pacientes não submetidos a cateterismo vesical. A sepse e a peritonite podem instalar-se sem serem percebidas, já que os sintomas (icterícia, hipotensão, insuficiência renal, febre, dor abdominal) podem ser atribuídos à própria leptospirose. A possibilidade de uma destas infecções deve ser aventada sempre que o estado clínico de um doente que vinha se recuperando passa a deteriorar inexplicavelmente.