Informações sobre leptospirose, causas, sintomas, prevenção e tratamento da leptospirose, com dicas para diminuição da sua ocorrência.


Fisiopatogenia da leptospirose

O curso da infecção de leptospirose é tradicionalmente dividido em duas fases, a primeira denominada "septicêmica" ou "leptospirêmica", e a segunda "leptospirúrica" ou "imune". À primeira fase corresponde extensa disseminação hematogênica das leptospiras, que podem ser, neste momento, cultivadas a partir dos mais diversos tecidos e líquidos corporais (sangue, liquor, humor aquoso). A sua disseminação nos tecidos pode dever-se à sua intensa mobilidade ou à sua capacidade de produzir hialuronidase. A fase "leptospirêmica" termina com a elaboração de anticorpos IgM opsonizantes, que promovem a rápida desaparição das espiroquetas. Se, como muitas vezes acontece, os sintomas desaparecem definitivamente neste momento, a doença aguda febril e miálgica, bastante inespecífica, correspondente à fase "leptospirêmica", será geralmente atribuída a uma síndrome gripal, ou a uma virose qualquer, e provavelmente ficará sem diagnóstico. Os sintomas que surgem durante a fase "leptospirêmica" são geralmente atribuídos à ação direta das leptospiras, ao efeito de produtos tóxicos por elas elaborados, ou à presença de metabólitos tóxicos e mediadores químicos liberados pelo hospedeiro.

Com o fim da fase "leptospirêmica", as leptospiras, antes disseminadas, passam a persistir apenas na medula renal e na câmara anterior do olho, podendo ser cultivadas da urina (ou do humor aquoso), donde a denominação de "leptospirúrica" para a segunda fase que então se inicia. Nesta fase, também denominada "imune", os sintomas podem, apesar da desaparição das bactérias, agravar-se. Os óbitos ocorrem, na maior parte das vezes, neste período. Dada a ausência ou raridade das leptospiras, os sintomas da fase "imune" são atribuídos a fatores tóxicos provenientes das bactérias mortas, ou decorrentes da ação do sistema imune do hospedeiro.

As duas fases podem estar separadas por um período de acalmia clínica, que pode durar de algumas horas a três dias, ou estender-se indefinidamente, o que eqüivale a dizer que muitos pacientes curam-se ao final da primeira fase. Nem sempre as duas fases podem ser separadas com precisão, especialmente nos pacientes mais gravemente doentes. Nestes, a doença geralmente piora progressivamente, sem qualquer remissão. O surgimento de icterícia, insuficiência renal e sangramentos caracteriza a leptospirose íctero-hemorrágica clássica, a chamada síndrome de Weil.

A leptospirose pode, na fase imune, manifestar-se também como uma síndrome de meningite asséptica. O liquor, que na fase leptospirêmica era normal embora contivesse leptospiras, é agora estéril, mas exibe pleocitose e discretas alterações da glicorraquia e da proteinorraquia. O acometimento pulmonar grave, manifesto por sangramento ou SARA, também tende a ocorrer na fase "imune".

A leptospirose é uma doença sistêmica. Há disfunção de diversos órgãos, cuja intensidade é variável. Os mecanismos pelos quais as leptospiras causam doença não são bem compreendidos. As descrições anatomopatológicas, disponíveis há décadas, nem sempre oferecem grande contribuição para a elucidação da patogênese. Os estudos em animais de experimentação (hamsters, cobaios), podem não reproduzir o curso da infecção em seres humanos, e nem sempre deixam claro a que fase se referem. Os diferentes mecanismos patogenéticos são em geral descritos como tendo ação simultânea, quando é provável que se ajam seqüencialmente, dada a história natural da doença, sendo alguns mais provavelmente afeitos à fase inicial, e outros à final.


Conceitos chave da leptospirose

A leptospirose é uma zoonose causada por leptospiras patogênicas.
Roedores, por causa da sua urina alcalina, servem como um importante reservatório para leptospira.
Leptospiras entram no hospedeiro através de uma ruptura na pele ou através da membrana mucosa intacta e espalham.se através da corrente sanguínea para todos os órgãos, dentro de 48 h.
Depuração bacteriana faz-se por fagocitose e mecanismo humoral.
Lesão de órgãos é resultado de inflamação induzida pela invasão de leptospiras, LPS, enzimas e proteínas da membrana externa.
Vasodilatação sistémica, vasoconstrição renal e aumento de permeabilidade capilar são a resposta hemodinamica básica de citocinas pró-inflamatórias e mediadores vasoativos que provocam hipotensão e diminuição do fluxo sanguíneo renal.
Hemorragia pulmonar e síndrome da angústia respiratória aguda, causada por lesão endotelial representam leptospirose grave.
A insuficiência renal em leptospirose, devido a necrose tubular, é catabólica no tipo e pode ser associada com icterícia colestática.

Hipocalemia e hipomagnesemia com hiperkcaluria e hipermagnesuria devido à disfunção tubular renal são comumente observadas.